Sergio Y. vai à Ámerica

 

Decidi fazer um recorte bem claro ao escrever sobre esse livro. Não vou falar quase nada sobre sua trama. E por que escrever sobre ele então? Porque gostei do livro e porque acredito que tenha algo muito interessante na forma como o autor escolheu montar essa história. Acredito que a experiência da leitura pode ser muito mais interessante se o leitor não souber muito bem do que se trata. Portanto, o meu relato hoje vai se resumir às métricas subjetivas que experimentei com o livro. É uma leitura rápida, com escrita clara e que se apoia em um tom bem investigativo. A narrativa começa com Armando, psiquiatra, vaidoso (coisa que ele diz que “não o incomoda”) e que será o narrador dessa história. Ele nos relata sobre um caso da sua clínica: um jovem chamado Sergio Y. que fez terapia por um tempo com ele, onde a queixa era ter uma natureza triste e não conseguir escapar dela. Depois de um tempo, Sergio anuncia que vai parar a terapia e agradece por tudo, se transformando para Armando em um caso inconclusivo. Passado um tempo o psiquiatra descobre que Sérgio está morando em New York e feliz. E a partir dessa palavra – feliz, Armando entra em uma busca incessante para compreender todas as migrações que Sergio se empenhou em fazer: geográfica, profissional, histórica, corporal e subjetiva. Esse deslocamento do paciente colocará em xeque o lugar que o médico acreditava possuir no consultório, diante dos seus pacientes e também na vida. É um livro que nos coloca a pensar e sentir sobre os lugares socialmente aceitos e as migrações necessárias para de fato ocuparmos lugares singulares conforme nosso desejo.

 

 

O tom investigativo na escrita

 

Gosto dessa escolha do autor de colocar um tom investigativo na escrita dessa história, principalmente porque o processo terapêutico convida a isso. Vamos para terapia para investigar sobre o que está acontecendo, seja por conta de um acontecimento ou – como Sergio – por um sentimento. Mas fato é que independente do motivo que leva alguém à terapia, é sobre investigar que se trata. Então, o fato do autor colocar Armando nessa busca por compreender um paciente que não está mais aos seus cuidados, transbordando as paredes do consultório, achei muito feliz. Porque coloca luz a esse ímpeto que todos nós temos de buscar entender, construir sentidos e narrativas a partir da nossa vivência. E é no momento de  investigação que nos deparamos com tudo aquilo que não sabemos de nós, mas que de algum modo aparece, um sinal que nos leva para territórios não entendidos e vividos. Armando se mostra como um psiquiatra errante, aquele que não sabe e que quer saber, nos trazendo uma composição muito interessante que parte desse lugar da vulnerabilidade, de que a vida escapa até aos mais atenciosos ouvidos.

 

 

Outros caminhos…

 

 

O autor: Alexandre Vidal Porto

 

 

Outros livros:

 

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