Você é minha mãe?

 

Alison Bechdel é imensamente corajosa e talentosa. Diria, inclusive, que na mesma proporção. Eu adorei o “Fun Home”, HQ onde ela percorre a relação com seu pai. Mas, amei o “Você é minha mãe?” onde ela coloca sua mãe no centro do livro e da sua vida psíquica. No primeiro livro, as citações de outros autores acabaram exercendo uma função de preencher a lacuna entre esse pai e filha, que tinham como universo comum a literatura. Agora, Alison construiu uma narrativa ainda mais complexa, com citações de Virginia Woolf e, também trechos de teoria psicanalítica. Mas essas não surgem agora com a função de preencher lacunas na relação mãe e filha e sim, de enredar a trama. A narrativa nos mostra o processo árduo de Alison na tentativa de escrever um livro sobre a sua mãe e, também seu processo angustiante na terapia com a busca incessante por essa mãe. É um exercício muito interessante o que o livro propõe – tudo se entrelaça e percebemos do que é feito o processo de escrita, assim como o processo de análise. Está tudo ali, acontecendo junto, ora com a cena das sessões de terapia, ora com o relato dos sonhos, ora com a escrita do livro, ora com a leitura de outros livros. Ao final, a questão que podemos nos colocar é: o que fica de uma mãe em nós? E quais as alternativas que podemos criar ao longo do caminho?

 

 

Referências da teoria psicanalítica na trama

 

 

As referências tem um lugar muito especial nessa obra, começando pelo título que é referência a um livro infantil muito famoso de P. D. Eastman’s que aponta para a questão da ansiedade infantil. De alguma forma já no nome do livro ela nos localiza o conflito da trama: a relação de mãe e filha e todas as suas vicissitudes.

 

Outra referência que me chamou atenção são os trechos do psicanalista britânico Donald Winnicott, que  tem nos conceitos psicanalíticos de “objetos transacionais” e a “mãe suficientemente boa” o centro dos seus estudos. A forma como Alison integra a teoria com o que acontece dentro dela, no seu universo subjetivo e fora dela, na vida cotidiana é uma das associações mais felizes em integrar teoria e arte.

 

 

 

 

 

 

Sinto que é nessa trama onde a teoria, a prática, a arte, o pensar e o sentir se misturam que o processo seja ele qual for, – criativo, emocional, profissional – acontece!

 

 

Fun Home

 

 

A minha leitura do Fun Home também está por aqui.

 

 

 

Alison Bechdel autora e personagem

 

 

Uma entrevista exclusiva com Alison Bechdel onde ela conta sobre seu processo criativo, a representatividade LGBTQIA+ e o teste Bechdel.

 

 

E, quando os quadrinhos ganham as paredes do Museu:

 

 

 

 

 

 

 

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